FILHOS
Meu filho deixou "as
casas",
achou por bem ir embora
e no singrar da aurora
com esforço bateu asas.
Na malinha velha e rasa
juntou sua vida singela.
Atravessou a cancela,
olhou, por fim, para trás
e lá se foi meu rapaz...
- Eu vi tudo da janela.
Deixou aqui suas
lembranças,
seu cavalo, seus cachorros
e já no segundo morro
se sumiu o meu confiança,
o meu guri, minha herança
de sangue, honra e
sequência.
Mas levou junto a essência
daquilo que pude dar,
das coisas simples de um
lar
e o respeito a querência.
Na verdade havia um tempo
que ele pensava nisto,
camperear algum serviço
que lhe provesse o
sustento
pois ninguém vive do vento
soprando nos tarumãs.
Com cheiro de picumã
encroado na camisa
se foi, cruzando divisas,
sem saber do amanhã.
E nós ficamos tapeando
essa dor de um filho ausente,
uma saudade inclemente
a cada dia aumentando...
Hay, nos seus trastes,
pairando
recuerdos que calam fundo.
Então, assim, num segundo
lembro o que disse um
poeta,
Kallil Gibran, O Profeta,
- Os seus filhos são do
mundo!
- São filhos e filhas das
ânsias,
vem por vós, mas não de
vós.
Não são seus, nem dos
avós,
são das ruas, das
distâncias.
Amparai a sua infância
sem ocultar os perigos,
sejais parceiro, amigo,
podeis dar o vosso amor
mas não lhes tire o
esplendor
de andejar longe do
abrigo.
Pode ser... Pode até ser,
mas até meu chimarrão
ando largando de mão
por matear sem ter prazer.
O rancho, no entardecer,
é um manancial de
tristeza,
não tem cor a natureza,
ficou mudo o violão
e se agranda a solidão
com um prato a menos na
mesa.
E pensar que fiz igual
quando deixei os meus
Pais...
Nem reparei nos seus ais
e hoje sofro o mesmo mal.
Assim é a vida, afinal,
tudo que nasce tem fim.
Mas... queria ter dito
assim
pro meu eterno menino:
- Que vá trançar teu
destino
mas volte, um dia, pra
mim!