14/06/2018
MEU JEITO
Para os que não me conhecem,
sou como áurea de santo,
redondo, não tenho canto
e nem lado pra chegar.
A mim me gusta escutar,
sou bugre de pouca fala
mas, até o silêncio se cala
quando me ponho a cantar.
Sou destes índios teimosos
pois trago sangue de Souza
e o meu empo em frente a lousa
não serviu pra me mudar.
De pouco adianta estudar
só pra buscar galhardia.
A minha sabedoria
é a natureza quem dá.
Cresci em meio a humildade
cruzando manhãs de frio,
lavando cavalo em rios,
dando adeus de mão em mão.
Eu te garanto "ermão",
quem viveu no meu estilo
por certo morre tranquilo
que a vida não foi em vão.
Hoje há milhões de pessoas
buscando imortalidade....
É porque, na realidade,
não souberam aproveitar
um bom vinho, um costilhar,
um chimarrão com a patroa
uma tarde de garoa
e o campo aberto pra andar.
Neste contexto gaudério,
terrunha filosofia,
eu utilizo a poesia
pra expressar meus sentimentos.
Encordoando lamentos,
alegrias, gauchadas,
eu levo a vida flauteada
sem afrouxar nenhum tento.
E o versejar que destilo,
de humildade franciscana,
tem na querência serrana
a fonte de inspiração.
Se todos louvassem o chão
que foi seu primeiro ninho
mesmo aquele sem padrinho
não ia morrer pagão.
Talvez por isso é que canto
recuerdos de muitos anos
do meu berço campechano
onde a paixão fez morada.
Folhas mortas nas calçadas
anunciando o frio de agosto,
uma história em cada rosto,
um retorno em cada estrada.
Pois não é qualquer querência
que cruza mais de cem anos
cortado de minuano
sem perder a pose altiva.
Te carrego sempre viva
São Chico por onde ande,
flor campeira do Rio Grande,
linda, doce e lenitiva.
Espero que minhas letras
cheirando a pasto e raiz
encontre um povo feliz
na mais perfeita harmonia,
em silente sintonia
com muita luz, esplendor,
com as bênçãos do Criador
e a campeira sinfonia.