SOU MAIS OU MENOS ASSIM

SOU MAIS OU MENOS ASSIM

14/06/2018

NA SOLIDÃO DE UM CHAMAMÊ




Boca da noite dá ôh de casa cá na campanha,
a gadaria vem rumo as casas com seus lamentos
- Ave Maria – quanta tristeza que se rebanha,
janelas altas rangem madeira a cada vento.

Espadas velhas guardam retratos pelas paredes
é minha gente de barbas ruivas, roupas de linho.
Encilho um mate num contraponto pra minha sede
e aquento o corpo no fogo brando de um nó-de-pinho.

É nestas horas que a tua ausência bate na porta
então ponteio nestas seis cordas meu desalento
eu que pensava que tua lembrança estava morta
no chamamê sinto teu lume galpão adentro.
 
Pra quem golpeia na lida bruta o dia inteiro,
um fim de tarde é hora sacra cá onde vivo,
o corpo cansa neste encargo de peão campeiro,
cabelos turvos, sulcos no rosto trago comigo.
 
Mas um borralho, um “gol” de vinho, um mate quente,
são coisas buenas pra alma pampa neste sem fim
e a cuscalhada que considero mais do que gente
me olham tristes, sabem da dor que existe em mim.    
 
Me vou ao catre, pelego grande, capa Ideal,
bombeando um ponto nas telhas cinzas de picumã...
Que passe ao trote a madrugada que me faz mal,
que ande o tempo pra um novo dia, novo amanhã.
 
Eu e meu rancho, pasto povoado, alma tapera,
silêncio vago e um frio de inverno que se prolonga.
Queria tanto que tu voltasse com a primavera
florindo os campos e ser parceira nas noites longas.