Enquanto é tempo
vou fazer meu inventário
pois ninguém
sabe o porvir de um novo dia
e quero tudo
como as contas de um rosário
um Padre Nosso
para dez Ave Marias
O bem maior que
compõe a minha herança
é minha honra
que nunca saiu dos trilhos.
Mas quanto a
isto tenho a alma leve e mansa
pois este dote
já passei para os meus filhos.
O meu cavalo,
mouro negro de confiança,
se por acaso ele
não for antes de mim,
quero que fique
pro andar só de criança,
que morra livre
pisoteando os alecrins.
Meu
poncho-pátria de baeta colorada,
rancho e tapume
no rigor das invernias,
vai de regalo
para quem foi a minha amada
sentir no pano meu
calor nas noites frias.
As homenagens
que ganhei por fazer versos
podem deixar
pelos fundos de um galpão.
Depois de um
tempo em outro plano do universo
das poesias que
rimei nem lembrarão.
Este meu corpo
não enterrem a sete palmos!
Que me incinerem
como um índio, como um monge.
e deixem as
cinzas num lugar bonito e calmo
aonde o vento
vai sopra-las pra bem longe.