I
Pele de bugre, de marrom
praieiro,
matiz de bronze destes memoriais,
couro curtido dentre os
canaviais
de quem labuta ao sol de
janeiro.
Jeito açoriano no falar
cantado,
sabe dos ventos que irão
soprar,
conhece as manhas deste velho
mar,
não sai pras lidas sem Xangô
ao lado.
É um daqueles que nasceu dos
rastros
destas tropeadas sob a luz
dos astros
donde, dos pousos, se
forjaram aldeias.
Talvez por isso que
transcenda os tempos,
do mesmo jeito, sem
"frouxar" um tento,
quem vem ao mundo pelo
chão de areia.
II
Traz no seu peito o troar
liberto
de mil tambores, essa voz
dos morros,
pelos quilombos a pedir
socorro
pra um povo negro de
destino incerto.
Maçambiqueiro mas encontra
vasa
pra uma milonga de findar
o dia
quando a saudade pede
cantoria
que traga almas pra rondar
as casas.
Tal como cruza oceano e
rios,
numa canoa de gingar
bravio,
enfrena um pingo e o
estribar campeia.
E sai com pose de gaúcho
alçado
chapéu na testa, laço
apresilhado,
quem vem ao mundo pelo
chão de areia.
III
Do solo guapo de aridez
sulina,
brotaram nomes que timbraram
eras,
que fizeram história com
ardor de feras,
cavalarianos de cruzar por
cima.
No viver de hoje, onde uma
agonia
vem tomando conta de nosso
universo
eles se acalmam recitando
versos
pelas ribaltas de uma Sesmaria.
Ah se eu pudesse, se me
fosse dado
esse direito de escolher meu
fado
jamais saía desta volta e
meia.
E ao findar a estrada, se
não for demais,
queria, ao entorno de meus
ancestrais,
volver pra terra pelo chão
de areia.
* Poema classificado em 3º lugar na 25ª Sesmaria de Osório
* Poema classificado em 3º lugar na 25ª Sesmaria de Osório