SOU MAIS OU MENOS ASSIM

SOU MAIS OU MENOS ASSIM

14/06/2018

QUEM VEM AO MUNDO PELO CHÃO DE AREIA




I
Pele de bugre, de marrom praieiro,
matiz de bronze destes memoriais,
couro curtido dentre os canaviais
de quem labuta ao sol de janeiro. 

Jeito açoriano no falar cantado,
sabe dos ventos que irão soprar,
conhece as manhas deste velho mar,
não sai pras lidas sem Xangô ao lado.  

É um daqueles que nasceu dos rastros
destas tropeadas sob a luz dos astros
donde, dos pousos, se forjaram aldeias.  

Talvez por isso que transcenda os tempos, 
do mesmo jeito, sem "frouxar"  um tento,  
quem vem ao mundo pelo chão de areia.  

II 

Traz no seu peito o troar liberto
de mil tambores, essa voz dos morros,
pelos quilombos a pedir socorro
pra um povo negro de destino incerto. 

Maçambiqueiro mas encontra vasa
pra uma milonga de findar o dia
quando a saudade pede cantoria
que traga almas pra rondar as casas.  

Tal como cruza oceano e rios,
numa canoa de gingar bravio,
enfrena um pingo e o estribar campeia. 

E sai com pose de gaúcho alçado
chapéu na testa, laço apresilhado,
quem vem ao mundo pelo chão de areia. 

III 

Do solo guapo de aridez sulina,
brotaram nomes que timbraram eras,
que fizeram história com ardor de feras,
cavalarianos de cruzar por cima. 

No viver de hoje, onde uma agonia
vem tomando conta de nosso universo
eles se acalmam recitando versos
pelas ribaltas de uma Sesmaria. 

Ah se eu pudesse, se me fosse dado
esse direito de escolher meu fado
jamais saía desta volta e meia. 

E ao findar a estrada, se não for demais,  
queria, ao entorno de meus ancestrais, 
volver pra terra pelo chão de areia.

* Poema classificado em 3º lugar na 25ª Sesmaria de Osório