
Velha cuia de porongo,
pipa da seiva esverdeada,
parceira das madrugadas
nas rondas da solidão.
És instrumento sagrado
que nos conforta e acalma,
onde a gente lava a alma
no ritual do chimarrão.
Taça rude do gaúcho
curtida com a própria erva
que nos matizes conserva
o marrom da nossa terra.
És um de símbolo de paz
no repartir do teu bojo,
mas também roncou no apojo
nos entremeios das guerras.
Em cada rancho crioulo
deste Rio Grande abençoado,
por mais pobre, mais rogado,
não falta a cuia na mão.
É a nossa hospitalidade,
um legado dos avós,
porque a cuia é para nós
espelho do coração.
Pois agora, velha cuia,
buscando originalidade,
te fizeram uma maldade
(que gente sem sentimento).
Grudaram peça com peça
ali, no entrar do Harmonia,
a tiveram a ousadia
de chamar de monumento.
Monumento da discórdia,
do agravo, da ofensa,
de algum artista que pensa
entender de gauchismo.
Ser gaúcho é ser singelo,
sem frescura, sem floreios...
Esta “arte”, meus parceiros,
pende mais pro erotismo!
Então que saia dali,
de perto do acampamento!
Botem ali o monumento
que é o Gaúcho Oriental.
Este sim tem tudo a ver
com nossa gente aguerrida,
não é "peça" indefinida
procriada em Bienal.